domingo, 12 de junho de 2011

Apesar de - Martha Medeiros

   Apesar de ela sempre reclamar do corte de cabelo dele e de também criticar o seu guarda-roupa ("onde é que você desencavou esta calça amarela?"), ele segue adorando esta ranzinza porque ninguém sabe, como ela, fazê-lo se sentir tão imprescindível na vida de alguém.
   Apesar de ele nunca querer sair com os amigos dela e implicar com o jeito que ela dirige, ela não o abandona nem sob decreto, porque ninguém, como ele, sabe fazê-la se sentir tão desejada. Não lembro quem disse que a gente gosta de uma pessoa não por causa de, mas apesar de. Gostar do que é gostável é fácil: gentileza, bom humor, inteligência, simpatia, tudo isso a gente tem em estoque na hora em que conhece uma pessoa e resolve conquistá-la. Os defeitos ficam guardadinhos nos primeiros dias e só então, com a convivência, vão saindo do esconderijo e revelando-se no dia a dia. Você então descobre que ele não é apenas gentil e doce, mas também um tremendo casca-grossa quando trata os próprios funcionários. E ela não é apenas segura e determinada, mas uma chorona que passa 20 dias por mês com TPM. E que ele ronca, e que ela diz palavrão demais, e que ele é supersticioso por bobagens, e que ela enjoa na estrada, e que ele não gosta de criança, e que ela não gosta de cachorro, e agora? Agora convoquem o amor pra resolver esta encrenca. O par ideal não existe. Esta tal de alma gêmea é uma invenção que colou não sei como, porque é só pensar um pouco pra ver que não faz sentido: seria uma sorte excepcional sua alma gêmea morar na mesma cidade, frequentar o mesmo clube e o mesmo bairro que você. Sua alma gêmea pode muito bem viver em Kuala Lampur ou em Helsinque, como é que você foi cair nos braços do primeiro candidato ao posto sem dar um giro pelo mundo antes? O que existe é uma necessidade de extravasar nossos sentimentos mais nobres, uma vontade maluca de pertencer emocionalmente a alguém. Existe um sexto sentido que nos conduz em direção a uma determinada pessoa, existe uma vontade de estar junto, de trazê-la para o nosso mundo e também de entrar no mundo dela, existe uma aversão à solidão que nos impulsiona para o desconhecido – ou para a desconhecida. E estes seres estranhos são gentis, bem-humorados, inteligentes, simpáticos, e o que mais? Ele deixa a casa esculhambada, ela é péssima cozinheira. Ele é pão-duro, ela gasta insanamente. Ele se irrita quando seu time perde, ela desmorona quando é criticada. Ele tem medo de altura, ela tem medo de tempestade. Ele chega atrasado, ela nunca está pronta. Ele é muito distraído, ela é muito ciumenta. Ele não gosta de sair, ela não gosta de ler. Ele dorme tarde, ela tem insônia. Ele é gremista doente, ela nem sabe o que é um escanteio. Mas se adoram, apesar de.

sábado, 9 de abril de 2011

Coisas terapêuticas - Tentando sempre evoluir um tiquinho...

 Em busca de um pouco de  inteligência emocional, trechos de Augusto Cury, um dos primeiros maiores estudiosos sobre a mente humana e a inteligência emocional...

Aceite suas emoções. Se tem medo de seus sentimentos intensos, como culpa, raiva, desapontamento e receio, permita-se perceber quanto medo desses sentimentos você tem. Então, sinta-os de todo jeito e, depois, lembre-se de que você sobreviveu.
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Permita-se cometer erros, admita-os livremente e não pergunte sobre "quem culpar?" ou "como escondê-los?", mas "qual a lição nisso? Como posso melhorá-lo?" A meta é o merecimento, não a perfeição.

A culpa é  raiva dirigida contra você - contra o que fez ou deixou de fazer. O ressentimento é raiva dirigida contra os outros - contra o que fizeram ou deixaram de fazer. Determine quais expectativas sobre você ou os outros foram quebradas. Então mude sua expectativa, para adequar-se à realidade. 

Aceite o que você deveria ou não deveria ter feito, suas transgressões futuras e as condições atuais que você não pode mudar. Quando puder mudar alguma coisa, mude.
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Não queira culpar o passado pelo que você faz hoje. Seria como culpar a gravidade pelo copo que você quebrou. Apenas limpe a sujeira e apanhe outro copo no armário. 
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As amizades são espelhos surpreendentes. Se detestar alguém, pergunte-se: "O que lembra essa pessoa em mim que detesto?" Se gostar de alguém, pergunte-se: "O que lembra essa pessoa em mim que me agrada?" 
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A dor - emocional, física, mental - traz uma mensagem:  "Sua vida seria mais animada se você fizesse mais isso" e "Seu amor seria mais amável se você fizesse menos isso". Deixe falar a sua dor. Siga seu conselho, e você se curará.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

OTIMISMO


"Confia razoavelmente em suas próprias possibilidades, e na ajuda que lhe podem prestar os demais, e confia nas possibilidades dos demais, de tal modo que, em qualquer situação, distingue, em primeiro lugar, o que é positivo em si e as possibilidades de melhora que existem e, a seguir, as dificuldades que se opõem a essa melhora, e os obstáculos, aproveitando o que se pode e enfrentando os demais com esportividade e alegria".

A MANEIRA PESSOAL DE VIVER O OTIMISMO

1. Confio razoavelmente em minhas próprias capacidades, qualidades e possibilidades de tal maneira que aproveito muitas delas. 
(O otimismo se baseia na confiança. A pessoa desconfiada, em qualquer sentido da palavra, tende a não aproveitar suas possibilidades. Não vê mais que as limitações).

2. Confio razoavelmente nos demais. Habitualmente descubro o que há neles de positivo. (É possível ser otimista com respeito a si próprio mas não com respeito aos demais. Sempre se pode descobrir algo positivo nas pessoas com as quais nos relacionamos).

3. Confio em Deus de tal maneira que, mesmo que não entenda o sentido de algum acontecimento a nível humano, habitualmente compreendo que tudo é para o bem. 
(Surgem na vida da maioria das pessoas situações em que não seria razoável continuar sendo otimista a nível humano. Por exemplo, ao morrer uma criança, uma doença grave, uma desgraça econômica. Unicamente a fé sobrenatural permite descobrir algo bom nelas).

4. Em situações difíceis, faço um esforço para buscar soluções positivas, tentando superar a tendência de queixar-me.
(É fácil ser otimista em situações positivas. Em troca, quando as coisas vão mal é possível que passemos queixar-nos e lamentar-nos ou a acusar a outros de serem os responsáveis pela situação).

5. Em qualquer situação busco o positivo em primeiro lugar. 
(Não se trata de falsificar a realidade, mas sim de saber buscar o positivo em primeiro lugar. É um hábito que se pode desenvolver).

6. Sou realista e habitualmente sei enfrentar-me com as dificuldades esportivamente. 
(Mesmo que tentemos descobrir o positivo, objetivamente pode haver muitos problemas. O otimismo leva à pessoa a enfrentar-se com eles esportivamente).

7. Distingo entre o que é aproveitável e o que não o é, e assim chego a otimizar o primeiro. 
(O falso otimismo ou um excesso de otimismo levaria à pessoa a tentar aproveitar o que não se pode, a simular, a enganar-se ou a enganar aos demais).

8. Em geral, consigo enfrentar-me com a vida com um positivo sentido do humor. 
(O bom humor permite assumir a responsabilidade da própria vida sem sentir-se abatido ou desgraçado).

9. Entendo que se trata de ser otimista com o fim de aproveitar todos os talentos que Deus me deu, com o fim de contagiar a alegria de viver aos demais e com o fim de viver como um autêntico filho de Deus. 
(É possível que se tente ser otimista simplesmente para não sofrer, para sentir-se mais à vontade ou por comodidade).

10. Me encontro habitualmente com paz interior, que ajuda a superar o desalento. 
(Esta paz interior não é algo que se possa desenvolver como virtude. É, na verdade, um indicador para saber se está vivendo habitualmente a virtude do otimismo).

A EDUCAÇÃO DO OTIMISMO
11. Crio as situações adequadas para que os meninos/as possam viver suas vidas com alegria. 
(Se existe um ambiente de alegria é mais provável que os jovens descubram o positivo ao seu redor).

12. Centro minha atenção nos aspectos e condutas positivos dos filhos/alunos de tal maneira que ganham confiança em suas possibilidades. 
(É relativamente freqüente encontrar educadores que insistem constantemente no "melhorável" dos educandos, no que fazem mal. Esta atitude não motiva, não ajuda aos jovens a ser otimistas).

13. Ajudo aos jovens a conhecer-se, a ser realistas com respeito a suas próprias qualidades e capacidades, com o fim de aproveitá-las ao máximo. 
(Os meninos/as necessitam de ajuda para autoconhecer-se. Podem infravalorizar-se ou supervalorizar-se. Trata-se de ser realista).

14. Aproveito ou crio situações para que os meninos/as possam começar a andar sozinhos sem ajudar-lhes desnecessariamente. 
(Uma ajuda desnecessária é uma limitação para a pessoa que a recebe. Se os educadores ajudam muito, o otimismo dos jovens pode ser falso, já que depende exclusivamente da ajuda que recebem dos demais).

15. Mostro minha confiança e meu amor aos filhos/alunos de tal maneira que tenham a segurança necessária para assumir a responsabilidade de suas próprias vidas. 
(Não basta querer ou confiar. É necessário manifestá-lo. Unicamente assim muitos meninos/as se lançarão a realizar ações boas, aproveitando seus talentos ao máximo).

16. Quando acontecem coisas que são objetivamente negativas, por exemplo uma doença, a falta de lealdade de um amigo, uma reprovação em um exame, ajudo ao filho/aluno a adotar uma atitude positiva com o fim de tirar algo positivo dessas situações. 
(Não é necessário criar situações deste tipo. Logo surgirão. Entretanto, se algum jovem não parece fracassar nunca, ou não ter dificuldades especiais nunca, pode ser bom criar uma situação problemática com o fim de que aprenda a superar dificuldades e a fracassar. Certamente vai encontrar dificuldades em algum momento de sua vida e melhor será que aprenda a superá-las quando ainda é jovem).

17. Falo com os jovens com o fim de que descubram o que significa confiar em Deus. 
(Normalmente não se trata de grandes conversações, mas de preferência de pequenas chamadas de atenção, informações breves que ajudam a pensar).

18. Tento criar situações para que aqueles meninos/as que costumam fracassar tenham a oportunidade de ter êxito. 
(Assim pode crescer a confiança em si próprios. Se acostumam-se a fracassar em quase tudo, jamais serão otimistas, nem aproveitarão as capacidades e qualidades que possuem).

19. Promovo ações ou situações em que os meninos/as são autenticamente importantes. 
(Não se trata de que os jovens "se sintam" importantes, mas que sejam importantes. Enquanto se responsabilizem por tarefas de serviço aos demais, de cumprir com encargos relevantes etc. encontrarão a satisfação do trabalho bem feito e, com isso, crescerá seu otimismo).

20. Ensino aos meninos/as a pedir a ajuda necessária para realizar seus projetos.
(Os jovens necessitam saber quando convém pedir ajuda a seus pais, a seus professores ou a seus companheiros. Também têm que acostumar-se a pedir ajuda a Deus sabendo que assim tudo será para seu bem).

 Fonte: Portal da Família

Ainda no tema: "Para pais e educadores".... (e eu!)


A educação da percepção empática
David Isaacs
Seria absurdo pensar que, nestas breves linhas, vai ser encontrada a solução do problema da educação da percepção empática, quando tantos sábios, durante tanto tempo, estiveram estudando o tema sem chegar a um acordo a respeito das conclusões operativas.
A maioria dos psicólogos está de acordo em que é necessário empatia, apreço positivo e calor humano nas relações com os demais. Mas não está claro como viver nem como ensinar a empatia. Algumas pessoas nascem com ela; outras, não. Aqui se trata de oferecer uma série de sugestões para ajudar os pais na educação de seus filhos. Não é um programa, mas sim, pontos em que se pode começar a luta de superação pessoal.
Inicialmente pode-se pensar em alguns esclarecimentos que convirá fazer ao adolescente:
- Nem todos somos iguais. Cada um raciocina de modo diverso frente a distintos estímulos. Portanto, não se trata de acreditar que outra pessoa vai sentir o mesmo que alguém em uma determinada situação. Este problema, de fato, continua existindo nas pessoas adultas. Por exemplo, algumas pessoas dizem: "isto não me incomoda, por que tem que incomodar o outro?".
- O que dizem ou o que fazem as pessoas não é necessariamente reflexo fiel de suas intenções ou sentimentos íntimos. Antes de considerar quais são os fatores que estão influenciando mais em uma situação, se trata de saber qual é a situação real, não o que fica refletido no comportamento aparente.
- É muito fácil ser simplista, crendo que há só uma causa para um determinado problema. Normalmente existe um conjunto de causas. Não se trata de aceitar a primeira causa, percebida como a única verdadeira.
- Em situações normais -não em casos atípicos-, talvez o mais importante para outro é saber que alguém se preocupa por ele, mas que, ao mesmo tempo, respeita sua intimidade.
- Por último, não se trata de chegar a compreender completamente. Isso jamais será possível. A dificuldade fica refletida na contestação de um pai à sua filha adolescente, depois de a filha lhe dizer que não o compreende: "Minha filha, como vou compreendê-la se nem sequer você se compreende a você mesma?".
Poderíamos resumir, dizendo que a compreensão que buscamos deve traduzir em uma ajuda para que o outro chegue a compreender a si próprio, o suficiente para pôr os meios, a fim de superar sua dificuldade ou empreender uma luta de melhora.
De todas as formas, devem ser considerados diversos tipos de fatores que podem ter influenciado nos sentimentos ou no comportamento de uma pessoa, para diagnosticar melhor o problema. Em relação a estes fatores, existe a tentação de perguntar diretamente ao outro: "o que há com você?" e, claro, na grande maioria dos casos a resposta é: -"Nada".
Pode haver influenciado na situação:
- algo que fez anteriormente. Pode existir uma relação estreita entre um estado de tristeza em um filho, por exemplo, e o haver colado em uma prova;
- algo que deixou de fazer. Por exemplo, a relação entre um estado de tristeza e não ter estudado para uma prova;
- algo que outra pessoa lhe fez. A relação entre o castigo do professor, por ter colado, e o estado de tristeza;
- algo que outro não fez;
- algo que pensou, viu ou sentiu ou escutou.

Damos alguns exemplos nesta relação para explicar o difícil que pode ser conseguir descobrir qual é o problema real ou quais são as causas do problema. Por exemplo, ao notar que um filho está triste, poderia ter lhe perguntado diretamente para descobrir qual era a causa. Talvez respondeu que havia sido porque o professor o havia castigado. Mas, realmente foi assim? Poderia ter sido também porque o professor descobriu-o colando, ou porque se deu conta de que devia ter estudado mais, ou porque algum companheiro havia zombado dele por ter colado, etc.

A atuação do que quer ajudar será diferente em cada caso. Se o menino percebeu que não devia ter colado, tratar-se á de ajudá-lo a superar o desgosto, e a estudar mais. Mas se está triste porque foi descoberto pelo professor, a compreensão não deve apoiar este sentimento. A compreensão, portanto, não conduz necessariamente à aceitação do sentimento ou do comportamento do outro. A compreensão supõe ter descoberto o que realmente acontece ao outro, a seguir, de seu ponto de vista -portanto, aceitando-o tal como é-, buscar um caminho de melhora.
E como podemos desenvolver esta capacidade nos filhos? Ajudando-os a reconhecer os distintos sentimentos nos demais, e seus distintos comportamentos. Isto é, educando a sensibilidade. Na prática, significará uma série de perguntas tais, como: "Reparou que seu irmão está muito contente, aborrecido, triste, satisfeito, etc.? Por que será? Está certo? Que outras razões pode haver? Por que seu irmão haverá feito isso?, etc. Além disso, não só se trata de ajudar os filhos a compreenderem seus irmãos, mas também seus companheiros, seus professores e, inclusive, seus próprios pais. Falou-se muito que os pais têm que compreender seus filhos. Mas os filhos também têm que aprender a compreenderem seus pais. E isto é um papel importante de cada cônjuge com os filhos. Isto é, a mãe pode ajudar os filhos a compreenderem seu pai e vice-versa.

A comunicação da compreensão
Segundo o tipo de problema que tem o outro, será necessário: compreendê-lo e mostrar a compreensão; compreendê-lo e não atuar; mostrar preocupação por ele e não esforçar-se por compreendê-lo muito. Tratar-se-á de compreender e não atuar quando o filho é capaz de superar a dificuldade sem ajuda. Pode ser o caso de um menino que se desgostou por uma coisa sem importância e sabe que é consciente de que foi uma bobagem. Prestar excessiva atenção neste momento pode ser contraproducente, porque supõe exagerar algo que o filho quer esquecer rapidamente. Em outros casos, o filho pode superar o problema, mas necessita de um apoio afetivo; necessita saber que alguém está preocupado com ele. Portanto, tampouco se trata de perguntar demasiado. Assim, podemos distinguir entre compreender a pessoa, seus sentimentos e seu comportamento, e compreender o que necessita.
Aqui vamos centrar a atenção na necessidade de sentir-se compreendido. Existem numerosos estudos sobre técnicas de comunicação. Mas tampouco se trata de conseguir que nossos filhos sejam peritos na orientação de seus irmãos e de seus companheiros. Preferimos agora comentar brevemente alguns modos de atuar que podem facilitar o processo, sem pretender aperfeiçoar muito.
- Trata-se de mostrar que alguém compreendeu, não que alguém julgou. Portanto, haverá que cuidar do próprio modo de expressar-se. Trata-se de evitar expressões valorativas e tentar o uso de uma linguagem descritiva. O ser humano se sente compreendido quando a pessoa que o está escutando repete, às vezes com suas próprias palavras, o que explicou, o que contou, mas sem valorizar o conteúdo.
- Trata-se de ajudar o outro a resolver um problema. Portanto, haverá que evitar estabelecimentos predeterminados. O enfoque é: "Vamos ver o que podemos fazer". Não deve ser: "Isto é o que tem que ser feito".
- Para continuar a compreensão, também é necessário tempo e condições adequadas. Trata-se de mostrar afeto e atenção. Isto não pode ser feito adequadamente com interrupções -chamadas telefônicas, etc. Se um irmão maior quiser ajudar um irmão pequeno, certamente será melhor que saiam de casa para dar um passeio ou, pelo menos, que busquem um lugar onde não vai haver interrupções.
- Por último, trata-se de mostrar que um não está "por cima" do problema do outro. Isto é, fazer pensar que, ainda que um compreenda o problema do outro, jamais poderia ocorrer-lhe isso a si próprio. Isto seria uma atitude de superioridade que mostraria, entre outras coisas, a falta de capacidade de compreensão.
Por tudo o que dissemos, ficará claro que a virtude da compreensão é especialmente importante para os pais, mas também para os filhos, sobretudo adolescentes. Porque os filhos podem ser uma ajuda muito eficaz para seus pais, em relação a seus irmãos menores. Às vezes, é difícil para os pais compreenderem o que acontece com seus filhos. Em troca, entre eles se entendem "maravilhosamente". Reconhecer este fato é também compreender.

A compreensão dos demais começa com o esforço de tentar compreender-se a si próprio. Necessitamos estar lutando para superar nossos próprios preconceitos, para evitar sentimentos indignos ou desnecessários que obstaculizam nosso processo de melhora. Conhecendo nossas próprias fraquezas, se trata de evitar as circunstâncias que as provocam, ou pelo menos, preparar-se para não cair outra vez no mesmo sentimento ou no mesmo comportamento. Isto é saber retificar. A retificação pode ser aplicada a atos injustos realizados frente aos demais, mas saber retificar é um ato imprescindível para a compreensão de si próprio. Quando chegamos a reconhecer as principais causas de nossos estados de ânimo ou de nossos próprios comportamentos, é essa compreensão que dá força para buscar a ajuda necessária e voltar a começar.

Entretanto, nunca chegaremos a nos conhecer nem a nos compreender totalmente -muito menos, aos demais- porque o ser humano é um ser misterioso.


Do livro "A educação das virtudes humanas e sua avaliação", de David Isaacs.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Links maraa: (para pais, mães, você e eu!)

http://www.portaldafamilia.org.br/artigos/artigo243.shtml

http://www.portaldafamilia.org.br/artigos/artigo242.shtml

http://www.portaldafamilia.org.br/scpais/virtudes.shtml


Que eu um dia possa ser uma boa mãe e você também.... Quem sabe?!

A culpa não é minha!

Ouvimos e proferimos a exclamação do título desde pequenos. Parece ser um dos atos mais humanos sentir culpa. Contudo, ninguém gosta de senti-la, tanto é assim que os ataques mais fortes da psicologia no século XX tiveram como alvo a culpa.
Entretanto, como pude observar em meu trabalho de mestrado, que teve como objeto a poesia do açoriano Vitorino Nemésio (1901-1978), a culpa não é, a priori, um mal que deva ser extirpado, já que por vezes pode ser um alarme de incêndio. Negá-la seria uma sandice, pois se a casa está pegando fogo, o melhor é agir para evitar danos piores. Na voz do poeta, a culpa assume por vezes tons amargos para depois apresentar um ressurgimento, como no belo poema O pão e a culpa. Após relembrar um passado feliz, vê com desgosto o presente e escreve:
Se não parto na mesa o pão que posso
É minha a culpa
Contudo, a segunda parte do poema, após a confissão de culpa, assume um tom de resgate da existência. Invoca o nome de uma mulher que foi sua mestra na infância (dizem alguns ter sido sua professora de catecismo):
LUCINA!
Nas coisas simples te vejo
Com a presença divina
Que foi teu fito e desejo
Após essa lembrança, diz o poeta a essa interlocutora que perdeu os valores da infância e hoje sua vida é vazia:
Bem traçaste a portada 
Que os meus versos teriam...
Enchi o livro de nada!
Mundo e carne mais podiam.
E, no fim dessa “confissão” a uma pessoa que já partiu, escreve, criando uma bela imagem de mulher delicada e santa:
Mas a silêncio um dedo
Levas à boca fina
No Céu, e eu creio. É cedo
Em Deus sempre, Lucina.
A culpa, para o poeta, foi o ponto de partida para uma renovação, expressa nas palavras: “É cedo/ em Deus sempre”, ou seja, a culpa que sentia foi apagada pela percepção que, para recomeçar, para se viver a felicidade, não há passado, apenas presente.
A culpa só esmaga a pessoa quando ela tenta enganar a sua consciência. Essa tentativa é real, pois, como explica a etimologia da palavra, consciência é “estar ciente”, “ter conhecimento”. Mal comparando, a culpa é como uma gastrite, que é a inflamação do estômago. No caso, é uma inflamação da nossa consciência, que “armazena” nossas ações passadas e nossos valores. Caso os atos do presente não correspondam ao que aspirávamos e víamos como certo, a consciência inflama-se. Se não tratada, transforma-se em uma úlcera.  
O tratamento, como bem sabemos e como o poema manifesta é “retificar-se”, ou seja, tornar reto, corrigir, reparar. Note o leitor que deixei propositalmente de lado os casos mais particulares como, por exemplo, quando uma pessoa, por ser escrupulosa, culpa-se por tudo. Quis apenas demonstrar os mecanismos de um sentimento comum e que pode ser curado.
O problema não está em sentir culpa, como afirmam alguns, pois é um sentimento humano. O que pode ser grave para uma pessoa é não retificá-la, não apagar essa culpa, já que a úlcera da consciência é o remorso. A culpa, na verdade, está ligada à responsabilidade. Quando ela passa de sentimento a culpa concreta, ou seja, sinto-me mal em um primeiro momento e depois vejo que agi mal em alguma coisa, a pessoa que a sofre entende ser responsável por seus atos.
Talvez em campos como política e educação, por exemplo, um pouco mais de culpa não faria mal a ninguém...




Já me permito sentir culpas e retificá-las....

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Mulheres Possíveis

'Eu não sirvo de exemplo para nada, mas, se você quer saber se isso é possível, me ofereço como piloto de testes.

Sou a Miss Imperfeita, muito prazer.

Uma imperfeita que faz tudo o que precisa fazer, como boa profissional, mãe e mulher que também sou:

trabalho todos os dias, ganho minha grana, vou ao supermercado três vezes por semana, decido o cardápio das refeições, levo os filhos no colégio e busco, almoço com eles, estudo com eles, telefono para minha mãe todas as noites, procuro minhas amigas, namoro, viajo, vou ao cinema, pago minhas contas, respondo a toneladas de e-mails, faço revisões no dentista, mamografia, caminho meia hora diariamente, compro flores para casa, providencio os consertos domésticos, participo de eventos e reuniões ligados à minha profissão e ainda faço escova toda semana - e as unhas!

E, entre uma coisa e outra, leio livros. 

Portanto, sou ocupada, mas não uma Workaholic.

Por mais disciplinada e responsável que eu seja, aprendi duas coisinhas que operam milagres.

Primeiro: a dizer NÃO.

Segundo: a não sentir um pingo de culpa por dizer NÃO.

Culpa por nada, aliás.

Existe a Coca Zero, o Fome Zero, o Recruta Zero. Pois inclua na sua lista a Culpa Zero.

Quando você nasceu, nenhum profeta adentrou a sala da maternidade e lhe apontou o dedo dizendo que a partir daquele momento você seria modelo para os outros.

Seu pai e sua mãe, acredite, não tiveram essa expectativa: tudo o que desejaram é que você não chorasse muito durante as madrugadas e mamasse direitinho.

Você não é Nossa Senhora. Você é, humildemente, uma mulher.

E, se não aprender a delegar, a priorizar e a se divertir, bye-bye vida interessante.

Porque vida interessante não é ter a agenda lotada, não é ser sempre politicamente correta, não é topar qualquer projeto por dinheiro, não é atender a todos e criar para si a falsa impressão de ser indispensável.

É ter tempo.

Tempo para fazer nada. Tempo para fazer tudo.
Tempo para dançar sozinha na sala.
Tempo para bisbilhotar uma loja de discos.
Tempo para sumir dois dias com seu amor. Três dias. Cinco dias!
Tempo para uma massagem. Tempo para ver a novela.
Tempo para receber aquela sua amiga que é consultora de produtos de beleza. 
Tempo para fazer um trabalho voluntário.
Tempo para procurar um abajur novo para seu quarto.
Tempo para conhecer outras pessoas. Voltar a estudar. Para engravidar.
Tempo para escrever um livro que você nem sabe se um dia será editado.
Tempo, principalmente, para descobrir que você pode ser perfeitamente organizada e profissional sem deixar de existir.

Porque nossa existência não é contabilizada por um relógio de ponto ou pela quantidade de memorandos virtuais que atolam nossa caixa postal.

Existir, a que será que se destina? Destina-se a ter o tempo a favor, e não contra. A mulher moderna anda muito antiga.

Acredita que, se não for super, se não for mega, se não for uma executiva ISO 9000, não será bem avaliada.

Está tentando provar não-sei-o-quê para não-sei-quem. Precisa respeitar o mosaico de si mesma, privilegiar cada pedacinho de si.

Se o trabalho é um pedação de sua vida, ótimo!

Nada é mais elegante, charmoso e inteligente do que ser independente.

Mulher que se sustenta fica muito mais sexy e muito mais livre para ir e vir.

Desde que lembre de separar alguns bons momentos da semana para usufruir essa independência, senão é escravidão, a mesma que nos mantinha trancafiadas em casa, espiando a vida pela janela. Desacelerar tem um custo.

Talvez seja preciso esquecer a bolsa Prada, o hotel decorado pelo Philippe Starck e o batom da M.A.C.

Mas, se você precisa vender a alma ao diabo para ter tudo isso, francamente, está precisando rever seus valores.

E descobrir que uma bolsa de palha, uma pousadinha rústica à beira-mar e o rosto lavado (ok, esqueça o rosto lavado) podem ser prazeres cinco estrelas e nos dar uma nova perspectiva sobre o que é, afinal, uma vida interessante'.

Martha Medeiros